O Carteiro de Pablo Neruda - BANDA SONORA + POEMAS


Este livro está cheio de música que enquadra principalmente as cenas passadas na taberna onde Mário conhece a sua amada Beatriz e onde se desenrola boa parte da narrativa. Mas também de poesia e dos poemas do próprio Pablo Neruda que são evocados.

 No dia em que o carteiro vê pela primeira vez Beatriz, a rapariga mais bonita que se lembrava de ter visto, na taberna, onde tinha ido para se consolar com uma garrafa de vinho e desafiar alguém para uma partida de bonecos tocava na juke box uma música que já anunciava uma grande paixão.




«Já de longe chegou até ele o estrondo das pancadas metálicas do Wurlitzer, que arranhava mais uma vez os sulcos do Mucho amor* pelo Ramblers, cuja popularidade já estava extinta há uma década na capital, mas que na pequena aldeia continuava ser actual»

*uma das canções de maior sucesso da banda de jazz e rock chilena criada em 1959 que já completou 50 anos de carreira


A mãe da taberneira quando descobre a sua mudança de comportamento, apercebendo-se do seu ar enamorado acaba por evocar vários versos do poema Farwell de Neruda para justificar o perigo dos homens e das intenções das suas palavras bonitas, quase nunca inocentes.

« (...) amo o amor dos marinheiros que beijam e vão-se embora.
deixam uma promessa. não voltam nunca mais.
em cada porto uma mulher espera: os marinheiros beijam e vão-se embora.
uma noite se deitam com a morte no leito do mar.

Amo o amor que se reparte em beijos, leite e pão.
amor que pode ser eterno e pode ser fugaz.
amor que quer se libertar para tornar a amar.
amor divinizado que se aproxima. amor divinizado que vai embora.

Eu não o quero, amada.
para que nada nos amarre, que não nos una nada.
nem a palavra que aromou tua boca, nem o que não disseram as palavras.
nem a festa de amor que não tivemos, nem os teus soluços junto à janela. (...) »

Mais adiante, apanha-lhe um poema dentro do soutien, tão mas tão sugestivo Nua (Sonetos de Amor: XXVII) que a faz proibir a filha de sair de casa até que Mário desampare a loja

Nua, és tão simples como uma de tuas mãos
Nua, és tão simples como uma de tuas mãos,
lisa, terrestre, minúscula, redonda, transparente,
tens linhas de lua, caminhos de maçã,
nua, és delgada como o trigo nu.

Nua, és azul como a noite em Cuba,
tens trepadeiras e estrelas no cabelo,
nua, és enorme e amarela
como o verão numa igreja de ouro

Quanto à banda sonora, temos ainda uma música dos Beatles que Pablo Neruda deu a conhecer ao carteiro e o presenteou, uma música que fala precisamente de carteiros e da espera ansiosa das cartas que eles trazem.


«Trouxe-te de Santiago uma prenda muito especial. "O hino oficial dos carteiros". 
Juntamente com estas palavras, a música de Mister Postman pelos Beatles expandiu-se pela sala (...)  E quando o poeta lhe pôs a capa do disco nos braços, como se lhe confiasse a custódia de um recém- nascido, e começou a dançar...»



Mas não encontramos só poemas de Neruda no livro, temos um muito especial feito pelo próprio Mário, inspirado nas suas odes, como prova de gratidão pela carta e prenda que o poeta lhe envia de Paris, onde se encontrava como Embaixador do Chile.

Ode à neve sobre Neruda em Paris
Branda companheira de passos sigilosos,
abundante leite dos céus,
imaculada fachada da minha escola,
lençol de viajantes silenciosos 
que vão de pensão em pensão
com um retrato amarfanhado nos bolsos.
Ligeira e plural donzela,
asa de milhares de pombas,
lenço que se despede
de não sei bem o quê.
Por favor minha pálida bela,
cai amável sobre Neruda em Paris,
veste-o de gala com o teu alvo
traje de almirante,
e trá-lo na tua leve fragata
a este porto onde sentimos tanto a sua falta.


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